Existe maneira certa para demitir alguém? Fui buscar na internet e dei também uma folheada nos poucos livros que me sobraram da época distante de faculdade e o que encontrei foi definitivamente muita teoria e pouca coisa realmente aproveitamos. Claro que o básico da burocracia não muda, mas cada caso é um caso no momento que temos que dar essa notícia.
Hoje resolvi fazer um balanço da minha carreira e por baixo devo ter demitido umas 40 pessoas, de estagiário até gerente com mais de 30 anos de empresa. Tiveram momentos rápidos e fáceis aos momentos mais bizarros que cheguei a pensar em voltar atrás para não ser submetida a algum processo trabalhista depois. Até hoje não tive que passar por isso, mas nunca se sabe quando a pessoa vai precisar de uma graninha extra não é mesmo?
Depois de muita pesquisa juntamente com a experiência que fui adquirindo demissão após demissão, cheguei a conclusão que não tem cartilha pra isso e sim, muito bom senso e feelling para saber o que dizer e quando dizer e saber principalmente, quando o processo de demissão deve começar, pois ele pode demorar até dois meses.
Teve um caso certa vez em que eu estava prestando meus serviços de consultoria em uma grande empresa de desenvolvimento de softwares de Minas Gerais com sede aqui em Curitiba em que o diretor me pediu gentilmente para demitir o gerente regional sul, pois ele tinha vínculos familiares com o fulano e não gostaria que isso se estendesse até sua casa. Ele estava cansado das "churumelas" nos finais de semana e férias, quando se reuniam com parentes e o assunto era sempre o mesmo, trabalho. Então a idéia de demití-lo consequentemente teria partido da nova consultora da empresa viabilizando assim a folha de pagamento e logística da região, já que a empresa estava passando por uma reestruturação comercial.
Olhando os indicadores do cidadão, naquele momento não seria viável esse desligamento, pois ele estava trazendo para a empresa quase 70% do faturamento mensal e entendia muito de sistema.
Imagina um vendedor chato e Nerd.
Era o sinônimo do cara.
Minha saga começou ali e ela durou exatamente 57 dias.
Como fazer num caso desse?
Implantar metas absurdas e inatingíveis?
Aplicar um questionário interno aos subordinados para verificar a gestão e qualificar a metodologia usada? Fiz tudo isso e impressionantemente ele passou com louvor em tudo. Principalmente nas metas supostamente inatingíveis. Esse caso me fez verificar que a empresa tinha muito mais potencial do que estava sendo usado, foi apenas tirar um pouco o foco do que mais vendia e abrir um pouco esse nicho de sistemas para empresas soho com custo baixo e pouco suporte. Bastou para ele atingir 135% daquela meta absurda. Quando eu verifiquei que os números estavam subindo, a produtividade aumentando e a demanda estava fora de controle. Eram contratações em cima de contratações e vendas em cima de vendas. O diretor não mudou de idéia. A demissão ainda era a meta, pois as lamentações do fulano haviam aumentado. Ele tinha noção que estava aumentando o faturamento, e por conta disso queria uma fatia maior da empresa no todo, ele queria sociedade. E isso estava fora de cogitação.
O que fazer então?
Saí também do meu foco. Mostrei a ele uma outra perspectiva. Aquela que todo mundo sonha: seu próprio negócio. Ganhei mais um cliente e fidelizei outro.
Essa história é para ilustrar que na maioria das vezes a nossa tendência é focar na mesmice e consequentemente temos respostas prontas sem saber lidar com o inusitado ou o novo.
Existem sim algumas regras básicas para uma demissão sem muitos traumas:
1) Nunca delegue essa tarefa para outra pessoa. Você estará se expondo para essa segunda pessoa como alguém que não cumpre com suas obrigações de gestor e certamente isso um dia será usado contra você. Jamais coloque a culpa em outra pessoa. Você é o responsável pela decisão.
2) Uns dizem que o começo da semana é o melhor momento e outros a sexta-feira. Isso vai depender do perfil do demitido. Se ele é do tipo "petista", o melhor mesmo é ser na sexta sem deixar muito tempo para ele minar os colegas, caso ele seja pacífico e você saiba que será bom para ambas as partes, sem problemas, assim poderá ser um ponto positivo aos olhos dos outros colaboradores.
3) Não chame-o para conversar como se ele estivesse indo pra forca ou para o bar. Seja sério e direto. Deixe as expressões faciais e corporais para a recreação ou laboral. Ser sempre educado, cordial e polido, assim a reunião transcorrerá positivamente sem transtornos ou maiores complicações. Sempre é bom lembrar que determinados casos podem não acabar ali e sim tomar proporções irreversíveis.
4) Vá direto ao ponto, sem rodeios. Você pode começar dizendo: Fulano, eu lhe chamei aqui para informar que estamos desligando você a partir de hoje da empresa. Agradeça pelo bom desempenho até o momento e informe o motivo pelo qual ele está sendo demitido. Se você puder seja franco, caso contrário use o praxe do perfil e dos indicadores sem esquecer que a empresa está passando por uma fase de reestruturação. Você não estará mentindo, apenas melhorando a forma de dizer a não esperada frase: Você está demitido! Não faça rodeios e seja breve. Uma alonga na conversa pode gerar desconforto para ambos.
5) Sempre mostre segurança e determinação. Não deixe brechas para que o demitido questione a decisão da empresa ou a sua. Se tratando da área de vendas, se você titubear, poderá ser demovido da decisão ou colocado em cheque sua atitude. Faça uma pauta de segurança com os prós e contras do perfil corporativo do funcionário e ressalte primeiramente os que ele precisa melhorar e quando chegar nos prós, encaixe de forma que esses atributos não são suficientes para a empresa.
6) Não se comprometa em recolocar o demitido ou recomendar pessoalmente a pessoa. Você poderá sim informar as reais referências e nada mais que isso. Não peça desculpas ou elogie demais. Podem também surgir dúvidas. Se o demitido fosse tão especial você estaria mandando ele embora.
7) Tenha paciência após informar a notícia. Até a pessoa assimilar o que está acontecendo pode levar um tempo. Para evitar surpresas você pode fazer um breaffing com o perfil do funcionário para tentar minimizar o trauma. Caso ele tenha um perfil muito emotivo ou agressivo, é sempre bom estar acompanhado de alguém do setor de RH para evitar maiores constrangimentos e nada se propagar para fora da sala. Jamais exponha o demitido ao ridículo, não se esqueça do assédio moral, pois você ainda é o seu superior.
Caso você tenha alguma dúvida em algum desses tópicos, repense se é essa mesma a atitude que deve tomar, pois jamais você poderá voltar atrás em uma decisão como essa, muito menos recontratar essa pessoa. A reincidência funcional é péssima para a equipe.
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